Alex Hanazaki, um dos melhores paisagistas do mundo é brasileiro

Fábio Gomides
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 PAISAGISMO

Fundador de um dos mais criativos e renomados escritórios de arquitetura externa do país, Alex Hanazaki é atualmente um dos maiores nomes do paisagismo contemporâneo nacional e vem conquistando cada vez mais destaque no mercado internacional

Nascido em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, Alex Hanazaki cresceu em contato com a terra, frequentando a casa dos avós e de outros familiares na pequena Martinópolis, cidade com 9 mil habitantes. A experiência no município agrícola foi fundamental para despertar seu olhar do menino para o campo. A facilidade em desenhar, característica reconhecida pelos familiares e por qualquer pessoa que conviveu com ele durante a infância, foi fundamental para a escolha e o consequente ingresso na faculdade de arquitetura, onde se apaixonou pelo racionalismo. Mas foi durante um curso extra-curricular de apenas 4 dias que Alex Hanakazi descobriu o paisagismo como sua verdadeira vocação. “Antes de terminar a faculdade de arquitetura na Universidade de Marília, no interior paulista, resolvi fazer um curso de paisagismo, na cidade de Holambra (conhecida como a capital das flores). Foi o meu primeiro contato com o paisagismo. Logo me interessei e busquei um estágio na área. A partir disso, percebi que era o que realmente me cativava”, destaca Hanazaki. Alguns anos depois, ele parte para São Paulo em busca de oportunidades na área e tempos depois, inaugura seu escritório, que atualmente é um dos mais procurados do país. 

O fato é Alex conquistou nos últimos anos um espaço significativo no mercado e vem crescendo e consolidando como umas das maiores referências do setor, principalmente depois que seu escritório conquistou por duas vezes (em 2014 e em 2017), o prêmio Professional Awards da ASLA, a American Society of Landscape Architects, considerada a mais respeitada associação de paisagismo do mundo. Nas duas premiações seus jardins foram eleitos os mais bonitos do mundo nas categorias residencial (2014) e geral (2017).

Divulgação

O projeto residencial foi concebido para a casa da arquiteta Débora Aguiar. Dividido em três níveis, conta com um campo de futebol no patamar mais baixo. A piscina, desenhada pela arquiteta, foi incorporada ao paisagismo e ganhou iluminação especial, assim como todo o jardim, formado essencialmente por pedras, diversas espécies de plantas, como grama e capim-do-texas, e duas jabuticabeiras. As formas geométricas e os espaços para passagem são evidenciadas por iluminação com lâmpadas de LED. O espaço ainda abriga ainda uma área de descanso privada com mobiliário em madeira. É possível perceber que seus projetos merecem e devem ser realmente reconhecidos como grandes obras de arte.

Não é raro ver empreendimentos imobiliários lançados com paisagismo assinado por Alex Hanazaki. Ele trabalha em parceria com grandes construtoras e participa ativamente da concepção de diversos projetos, localizados principalmente na capital paulista.

Mas o que faz de seu trabalho tão inovador? Certamente, além do fato de ser dotado de um olhar muito apurado, lapidado ao longo de sua carreira por meio de estudos constantes e diversos estímulos, Alex Hanazaki se especializou em oferecer muito mais do que seus conhecimentos na área de botânica e de proporção. Seu trabalho é focado na construção de uma arquitetura externa, conceito que vai muito além do que o paisagismo que estamos (ou pelo menos estávamos) habituados. O resultado são jardins muito criativos, com bastante conceito e identidade únicos.  Não existe uma marca ou traço que apareça de forma recorrente ou até repetitiva nos seus trabalhos a ponto de ser considerado uma espécie de assinatura do artista. “Eu não poderia falar que imprimo uma marca nos jardins, principalmente no Brasil, que tem dimensões continentais. Temos desde a floresta tropical, cerrado, caatinga, entre tantas outras. Ou seja, a cara do Brasil é justamente essa abundância de estilos, culturas, etc. Mas apesar de toda essa mistura, tento imprimir sim alguns traços marcantes do meu trabalho, seja ele em um estilo moderno, rústico, clássico, mas sempre, antes de tudo, respeitando as características da arquitetura e do entorno da obra. Esse casamente é essencial para um grande resultado.”, destaca Hanazaki.

Daí a justificativa para todo o burburinho em torno do seu nome. Importante ressaltar que, apesar do seu escritório carregar o seu nome, o time liderado por Hanazaki no seu estúdio localizado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, é bastante extenso e inclui diversos outros profissionais como arquitetos, paisagistas, jardineiros, biólogos e até engenheiros agrônomos.  

Por tudo isso, podemos dizer que os projetos criados por ele e sua equipe são únicos, verdadeiras obras de arte. Inquieto e muito curioso, faz questão de se renovar sempre e fez do perfeccionismo e da ousadia as suas maiores características. Perguntado sobre as suas principais fontes de inspiração, Hanazaki destaca que a maior delas é certamente é a própria natureza, mas que também se inspira bastante nos seus clientes uma vez que seu trabalho pretende satisfazer os anseios de pessoas que irão usufruir dos espaços criados por ele. Além disso, ressalta o fato de estar sempre muito antenado à todas as novidades do mercado, tanto no país ou no exterior. E outra fonte de inspiração e troca é o constante contato com profissionais do mercado, que são os arquitetos que o convidam/recomendam para a execução do paisagismo de seus projetos.  Como arquiteto, de formação que sou, desde a faculdade de arquitetura, admirava desde as obras clássicas até as minimalistas. Sempre acreditei que o belo superava qualquer predileção pelo gosto. Dentre o que me motivava, a arquitetura racionalista teve uma importância muito grande na minha formação e no meu senso estético. Além de nomes internacionais como Mies Van der Rohe, Walter Gropius, Le Corbusier, tive influências do Brasil, que nos trouxe uma safra admirável de arquitetos modernistas que oriundos dessa escola racionalista como Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Vilanova Artigas e Lina Bo Bardi.

Processo de trabalho

De acordo com ele, é a arquitetura que define os rumos que cada projeto irá tomar. “Geralmente início desenvolvendo os elementos construtivos como piscina, espelhos d´água, lagos, cascatas, pisos, acessos, pergolados, áreas de lazer. E no final é escolho as plantas. Tudo em perfeita simbiose com o projeto de arquitetura”, destaca. Contando assim, pode até parecer simples, mas na prática não é bem assim que acontece, principalmente porque seus projetos são milimetricamente calculados. E quando estamos falando de vegetação, temos que considerar o fato de que ela vai se modificando com o passar do tempo. Para dar conta de tudo isso, a fórmula que Alex encontrou para sobreviver neste mercado mantendo sua essência e sua identidade foi a liberdade e a quase necessidade de promover uma espécie de renascimento a cada projeto. Perguntado sobre o que não pode faltar em um projeto assinado por ele, a resposta veio sem titubear: proporção e aconchego.

Fotos: Felipe Petrovsky

Hotel Carmel Taiba

Reconhecimento

Fotos: Yuri Seródio

Praça Eliane, CASACOR 2016

Para ele, cada projeto tem uma carga diferente de desafio, seja pelo tamanho da área, pelo tipo de clima, pelo valor disponível para o investimento para um projeto paisagístico ou até mesmo pelas expectativas do cliente. Mas um projeto que merece destaque em seu extenso portifólio foi o vencedor do prêmio ASLA, reconhecido como um dos jardins residenciais mais bonitos do mundo. O desafio de Hanazaki foi conceber um jardim de baixo custo (obviamente considerando uma extensa área de 9.000m²), preenchido basicamente com grama moldada em taludes cuidadosamente projetados. O resultado foi um prêmio que até então nunca havia sido concedido a um brasileiro. “Foi uma grande honra ter recebido este prêmio de bastante importância, pois mostra que estamos fazendo um trabalho com relevância, colocando o Brasil no cenário de grandes obras do paisagismo contemporâneo mundial numa era pós Burle Marx”, reconhece Alex Hanazaki, que antes de conquistar prêmios internacionais, chegou a participar de mostras importantes no Brasil como CASACOR, que contribuíram para apresentar a ousadia e e o talento do profissional para um público especializado. “Aconselho sempre a participação dos profissionais, principalmente em início de carreira ou então quando você tem algo realmente relevante para apresentar e não apenas pela mera participação, pois estes eventos contribuem para a criação de uma grande trajetória na vida de qualquer profissional”, finaliza.

Fotos: Yuri Seródio

Jardim Deca, CASACOR 2017