Christus Nóbrega – Arte e tecnologia, aproximações

Revista Abreu
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Imagens: Divulgação

ARTE E TECNOLOGIA, APROXIMAÇÕES

CHRISTUS NÓBREGA

O polegar é o nosso dedo mais importante, sendo o único que se coloca em posição oposta aos demais. Por essa disposição é que foi possível que nossos ancestrais desenvolvessem a habilidade de pinça, ou seja, a destreza de pegar e manipular a natureza por meio de instrumentos, com os quais puderam defender-se e modificar o meio ambiente para garantir sua sobrevivência. A evolução humana está diretamente relacionada a este fato.

 

Ao olhar sobre nossa evolução, percebemos que, à medida em que criávamos consciência sobre uma parte de nossos corpos, fomos encontrando mecanismos de artificializá-las. O primeiro exemplo são as lanças. Ao entender a força do braço, criamos extensões capazes de esticá-los. Criamos a roda como extensão do pé. A escrita como extensão da fala. Nasce aí a tecnologia – o conjunto de técnicas, habilidades e métodos usados na produção das coisas do mundo. A relação entre tecnologia e humanidade é tão intrínseca que ouso dizer que quanto mais tecnológicos nos tornamos, mais humanos somos.

 

Há tecnologias por toda a parte. Onde há vestígios de humanidade há tecnologia. Vejamos o exemplo da fala: não seria a própria oralidade humana uma forma de mecanização do corpo? De torná-lo tecnológico? Por essa perspectiva, podemos dizer que a produção artística é, por princípio, uma produção tecnológica. A arte, sendo reflexo do seu tempo, tende a usar e problematizar as tecnologias de sua época. No contexto contemporâneo, no qual o antigo e o novo são passíveis de convivência simbiótica; as tecnologias tradicionais e novas tecnologias, das quais destacamos as tecnologias computacionais, também fazem parte do universo artístico.

 

Em minha prática poética, procuro trazer ambos os mundos. Se por um lado o papel, um material estruturante do meu trabalho, traz consigo a ancestralidade das técnicas artesanais, as formas de cortá-lo e arranjá-lo se dão por processos matemáticos e computacionais, muitas vezes criados por mim exclusivamente para a construção de uma dada obra. Aprender uma linguagem de programação ou um modelo algoritmo, para mim, enquanto artista, é como aprender uma língua para escrever um poema. Na contemporaneidade, entendo que para ser poliglota é preciso saber falar a língua dos homens, mas também a língua das máquinas. Assim, podemos usá-las como instrumento (tal qual nossos ancestrais mexendo com graveto); caso contrário seremos nós os instrumentos das máquinas.