Desde os abalos de terra em 2018, a população de Maceió tem vivenciado, um tempo de incertezas, medos, confusão de pensamentos, conflitos de interesses e desinformações gritantes, além é óbvio de uma ciranda midiática de alcance planetário. É uma chaga aberta no peito e na mente de cada alagoano.
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Dolina não é nome de mulher, não ainda, não que eu saiba. Em geologia, a ciência que estuda a terra, sua composição e seus fenômenos; são as dolinas; extensas depressões que aparecem no solo quando ocorre a dissolução das rochas que compõe os setores ou camadas posicionados abaixo da superfície terrestre. O diâmetro (largura, geralmente circular) e a profundidade (altura) de uma dolina pode variar muito, devido a variados fatores. Em oposição a colina, monte. Dolina é depressão, cratera.
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O fenômeno sozinho de tremor do solo acontecido há aproximadamente seis anos trouxe a baila que a mineração do sal gema (Maceió, Paripueira e Barra de Santa Antônio estão assentadas sobre imensas camadas deste valioso componente do subsolo profundo), cujos subprodutos fazem entre outros o cloro, a soda e o PVC (tipo de plástico com enorme apelo fabril e boa aceitação na indústria e na construção civil).
Desde a implantação da empresa, se cogitou esse problema da subsidência e data dos anos 1970 do século XX. A exploração parece ter levado o espaço de quatro décadas para alcançar o ponto crítico. Uma desarticulação sem precedentes no solo e a possibilidade de um desastre ambiental em área urbana numa escala enorme.
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Fato que não pode passar desapercebido dos urbaNAUTAS. Experimentamos lançar alguns parâmetros que não temos ainda observado ser tratados por colegas da arquitetura e do Urbanismo neste nosso universo citadino. Da urbe que aniversaria hoje.
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Sobre o território extenso de cinco bairros onde as minas estão situadas e sobre o corpo hídrico que nomeia nosso Estado Das Alagoas.
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É alarmante? É.
É indignante? É.
É desafiante? É.
É ultra desafiante principalmente por não encontrar precedentes. Seja em vivências, relatos, literatura, ficção ou casos similares.
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Entretanto queremos fazer o exercício de acreditar que a estratégia das mitigações esteja a de vento em popa a pleno pano, a pleno vapor. Apesar da subsidência quantificada e mensurada. Nada desmoronou, exceto os sonhos e as maneiras das vidas nas localidades, cujo montante é significativo. Bastante significativo pelos números apresentados de mais de 60.000 famílias relocadas e outras tantas que ainda sequer o foram. Número maior que a população de muitos municípios do Brasil. Maceió é capital e está aniversariando neste 5 de dezembro de 2023.
Que informações são as que têm dado as cartas neste imenso tabuleiro ?
Qual o próximo lance? Qual o novo passo?
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Não se pretende minimizar a situação com desvios de atenção, ou longos arrudeios. É tanto a boa fé como o míster profissional que nos conduz a pensarmos solucionar todas as equações que se interpõem à nossa frente. O que pensar? Pensar livre.
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Há uma cortina de fumaça? Provavelmente. Há uma cortina ao fundo? Tranquilamente.
Há blindagens? Possivelmente.
Nossa visão das ideias, estudos e soluções nos empurra para obviamente, dentro do nosso recorte virtual de pequeno alcance, pensar no que fazer, como, aonde e quando. O custo não poderá jamais, ser um fator limitante. Empecilho maior é a brutal realidade imposta.
Onde vislumbraremos o que sem precedentes pode acontecer? Ou já aconteceu e ainda não se tem total conhecimento?
Não pretendemos minimizar ou denunciar, não é essa a ideia que nos guia nesta senda de reparar e reposicionar. E como aqui é um ensaio, seguiremos em busca de encontrar caminhos capazes de promover a adequação que o problema gigantesco e inédito pode receber. Uma vez estabilizada as minas, o uso do solo poderá voltar a existir?
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Pensemos juntos, estimados leitores, decerto que primariamente a abordagem inicial da solução praticada foi subestimada e erroneamente colocou distintos patamares na mesma régua. Depois, a condução propriamente dita pareceu ter sofrido com a questão do distanciamento provocado pela pandemia do covid – 19. E houve também situações não previstas justamente pelas particularidades da cidade e da sua população, pela morfologia do relevo, pelo traçado urbano e principalmente pela forma que as pessoas se comportam coletivamente diante do inusitado, do inesperado, do incerto e do desesperador.
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Quem pode nesse adiantado da hora dar garantias? Quem está 100% ciente ou tem certezas plenas? Ninguém! Parodiando o poeta; eu sou ninguém. Nós somos ninguém. E agora?
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Se no primeiro momento a retirada dos moradores se desse montando um novo desenho de bairro em outras áreas de expansão da cidade, onde a vizinhança, a memória e sentimentos de pertencimento fossem respeitados, e mantidos casa por casa, morada por morada, comércio por comércio, serviço por serviço, rua por rua, quadra por quadra, bairro por bairro. Não foi assim.
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O pânico cuja semeadura foi, boato a boato, minando as resistências. Depois das desocupações vieram os saques. Clientes fiéis se foram.
O mercado paralelo de materiais usados, nem tão antigos assim travestidos com a grife “demolição” grassou como nunca antes.
De prima apareceu o disfarçado interesse político que morde e assopra. De sobra que só sobraram restos. Restos de lembranças em ruínas, trituradas pelo capital. As coisas foram e têm sido bem loucas nessa freguesia. As memórias e as afetividades não entrarão no rol do que é computado. Que nos resta se nossa voz vai sendo sobrepujada por narrativas técnicas. Parece acolhimento e é despejo. É despejo, mas parece negócio. É negócio mas não parece. Tudo carece e tudo fenece, todo o atingido esmorece.
Embora não, vai-te embora sim.
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Observação complementar sobre o modus operandi
O poder financeiro entre mandos e desmandos marcam a trajetória de quem nunca se deixou fiscalizar. Até premiação anual de matérias sobre o meio ambiente contemplou jornalistas ao invés de premiar protagonistas. Lucro, lucro, lucro!
Em 2018 a mineração fez de tudo para não ter culpa. Ao final foi instada a assumir. Assumiu as rédeas da situação, pagou quem quis, quando quis e na ordem que quis. As tratativas foram sempre sem o menor senso de equilíbrio, a tônica sempre predominou de modo asfixiante. A empresa deve ter como meta usar o território da superfície, pleno de infraestrutura e muito bem localizado para a finalidade imobiliária,pois suga o subsolo, para ter mais ganhos e sempre. Ora , poderemos entender que os moradores antigos devam ter também o seu quinhão. Ou poder de decisão sobre suas posses de outrora.
Nos processos de desapropriação e compra dos imóveis de um lado pareceu sempre que estava pagando mais que o mercado, enquanto na outra ponta inflacionou o novo imóvel destino. Ninguém conseguiu comprar o outro imóvel no lugar que quis ou pôde escolher e sempre foi necessário acrescentar mais dinheiro (até da venda de outros bens).
Solapado foi o núcleo de vizinhança solidamente vivenciado pelos últimos 60, 40 anos totalmente desprezado nas contas e ações e os ditos danos morais foram custeados em ínfimos valores, moedinhas de troco, simplório custo, tratorando como bem quis o que a letra da lei preconiza.
Já não estamos certo se haverá dolinas. Crateras. Afundamento em série, colapso e subsidência total.
Queremos acreditar que essa nova onda de boatos foi intencionalmente usada para tornar o pânico como alavanca para a retirada dessa população que ainda resistia.
Houveram nessa semana solicitações para que a via de Bebedouro (obstruída com portões e tudo mais) fosse reaberta. A dona do território não vai aceitar, enquanto isso, realiza as modificações topográficas na encosta que vislumbra o pôr do sol mais belo.
Nenhuma prefeitura conseguiu isso.
Imaginemos um bairro planejado, com alto valor agregado, casas, edifícios comerciais e de serviços, apartamentos, shoppings, clínicas, parques, entre outros equipamentos urbanos. Mobiliários urbanos com interface dos aplicativos, TI e tudo que o futuro tecnológico pode oferecer.
Dois teleféricos ligando a duas marinas na Laguna para reduzir jornadas de trabalho e tirar o stress com lazer. Heliportos, pistas de ski e piscinas com ondas para o Surf. Campos de golf, entre outros…
Quanto a Laguna, essa sofrerá muito. A vida que ela sustenta, mais ainda. Será aniquilada. Continuará como espelho d’água de incomparável beleza. Salgado pela salmoura da salgema. Mais morta que o Mar Morto. A cunha salina a atingir os vales, do Paraíba e do Mundaú.
Tudo lentamente, procrastinadamente, larapiamente, planejadamente e eficaz.
Tudo a olhos vistos, debaixo de nossos narizes, em nossos emprenhados ouvidos.
Na boca, o mais amargo dos gostos.
“O homem é o Lobo do homem, o homem cordeiro se fez caçador ( Alceu Valença)”.
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Parabéns Maceió pelos seus 208 anos. Rogo a Deus que um presente de grego não tenha sido plantado em suas entranhas.
Texto de autoria de Roberto C. Farias, publicado na Coluna UrbaNauta do portal Notícias do Centro – A VOZ DO BAIRRO ONDE MACEIÓ NASCEU
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