Incentivar arborização para combater o clima quente é fundamental

Cassia Monteiro
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O cuidado com o meio ambiente é uma necessidade mundial cada vez mais evidente. Parte desse cuidado passa por ações que as pessoas podem desempenhar dentro da sua comunidade, como o cultivo ou a plantação de mudas de plantas, por exemplo. A sociedade precisa tomar para si deveres e ações em prol de um meio ambiente mais equilibrado, a fim de evitar maior poluição e degradação do planeta. Uma cidade como Fortaleza, por exemplo, cujas temperaturas, a depender do mês, pode chegar a 30 graus, requer uma observação mais atenta para a área verde da cidade, passando, por exemplo, pelo incentivo à arborização.

 

O paisagista e proprietário do Bonjardim  Ambiental, Fabrício Pereira, responsável pela elaboração de projetos paisagísticos para casas, empresas e condomínios, explica que um alto índice de arborização em uma cidade contribui de várias maneiras para a qualidade de vida de uma população que vive naquele espaço, desde a redução de micropartículas à filtragem do ar. “Hoje em dia as cidades têm densidade de emissão de poluentes e as árvores contribuem com a filtragem desse ar e das partículas que circulam, pois contribuem com a redução das chamadas ilhas de calor, reduzindo  a sensação de quentura”, diz.

 

Isso pode ser explicado quando, por exemplo, alguém está andando por uma calçada no calor e, de repente, passa embaixo de uma árvore e logo sente a sensação de frio. “É a alta densidade de arborização que também contribui para a redução de enchentes, pois o ciclo da água ecoa e, em vez de a água correr por asfalto, absorve melhor no solo antes de ser depositada na atmosfera. Além disso, contribui para a biodiversidade, passeio ao ar livre, entre outras vantagens e benefícios de ter região bastante arborizada”, explica.

 

Segundo Fabrício, “é preciso que haja intervenção do homem por meio da instalação de árvores que precisam ser cuidadas, pois no momento que a árvore se estabelece, esse ciclo começa a funcionar. Logo, retirar a água do subsolo e jogar na atmosfera, melhorando o clima e induzindo a chuva, vai ficar tão automático que favorece o surgimento de novas árvores”, destaca  Fabrício Pereira.

Recomendação da ONU

A Organização das Nações Unidas (ONU), há um tempo, indicava em torno de 12 a 15 metros quadrados de área verde por habitante, o que corresponde a uma árvore por pessoa. Essa recomendação, no entanto, foi revisada em função de impactos que a população tem causado ao meio ambiente e hoje corresponde a 35 metros quadrados por habitante. O Brasil, no entanto, está abaixo desse número. O último dado de Fortaleza, por exemplo, observou apenas quatro metros quadrados, o que coloca a cidade ainda mais distante do cenário ideal. Para efeitos de comparação, a cidade de Estocolmo, na Suécia, por exemplo, possui 86 metros quadrados de área verde por habitante.

 

“Isso é fácil de se corrigir. É preciso fazer uma campanha para induzir a população para que cada casa tenha uma árvore no quintal. Se multiplicado pela rua, teria um impacto gigante se cada casa da cidade tivesse uma árvore. Não é à toa que países como Suécia têm essa preocupação, enquanto nós estamos desmatando. Não só estamos sem incentivar as pessoas a terem árvores, como reduzindo as poucas que temos através do crescimento imobiliário e isso precisa ser corrigido por meio de ações simples”, explica o especialista.

 

Para contribuir com o meio ambiente, as pessoas precisam estar conscientes sobre a plantação e incentivo de novas árvores nos espaços das cidades. Em Fortaleza, há locais em que a população pode ter acesso a mudas de plantas gratuitas, entre os quais o horto municipal da Prefeitura de Fortaleza, que funciona no Passaré e promove a distribuição de mudas de árvores para quem está disponível para o crescimento e arborização da cidade, além do horto do Parque Adail Barreto, onde há mudas ativas próprias da região e adaptadas ao clima. Além disso, há o parque botânico, em Caucaia, que promove não só a distribuição de mudas, mas oficinas de coletas e frutos e ensinam como produzir mudas em casa para quem quiser contribuir com a arborização da cidade, sem contar que nas instituições privadas o preço das mudas é irrisório.

Sobre o paisagista

Com formação em Saneamento Ambiental e atuando no paisagismo em Fortaleza desde 2010, o foco do trabalho de Fabrício Pereira sempre foi muito mais os impactos e aspectos das sensações de conforto, acolhimento, proteção e bem-estar causados pela presença do verde em nosso espaço de convivência, do que só apenas a estética. Não que ela não seja importante, sempre é levada em consideração a contribuição visual das plantas, mas depois de terem sido definidos parâmetros de sustentabilidade, para que manter aquele espaço verde não seja mais caro do que os benefícios causados por ele, ou funcionalidade, para que as plantas contribuam com a melhoria da qualidade de vida de quem habita aquele espaço e não sejam um inconveniente vizinho, cheio de necessidades especiais.