Kokedamas

Fábio Gomides
9 min de leitura

 PAISAGISMO

Lindas e fáceis de cuidar, as Kokedamas caíram no gosto do público e fazem sucesso na decoração

Desenvolvidas a partir da filosofia japonesa Wabi Sabi no período Edo (que vai do século XVII até a segunda metade do século XIX), as Kokedamas são na verdade uma adaptação de um tipo de técnica utilizada no cultivo dos Bonsais, onde a planta era cultivada em um pequeno vaso e, após suas raízes crescerem enroladas na terra, eram retiradas para que, com o tempo, o musgo fosse se desenvolvendo naturalmente ao redor dessas raízes, protegendo assim a planta. O que acontece com as Kokedamas é então uma espécie de aceleração deste processo uma vez que não há necessidade de esperar que o musgo cresça. Ele já é acrescentado durante a montagem e fixado por meio de linhas, que o sustentam ao redor das raízes. O nome kokedama em japonês que dizer “bola de musgo” (koke = musgo/dama = bola). A técnica é responsável por garantir um ecossistema capaz de oferecer todas as condições para o desenvolvimento da planta, dispensando o uso de vasos. De simples manutenção, as Kokedamas caíram definitivamente no gosto de pessoas em todo o mundo e hoje já é bem fácil encontrá-las em diversos estabelecimentos como floriculturas, supermercados, home centers, feiras livres e claro, na internet.

Entre os principais motivos para a popularização das Kokedamas, além do fator estético e ornamental, estão a facilidade do cultivo e também a versatilidade do uso. O arranjo funciona bem como centros de mesa, apoiados em bases ou até mesmo suspensos, dando a impressão que estão flutuando. E podem ser colocados na sala, quarto, banheiro, varandas e ainda em vários outros lugares. A planta necessita de poucos cuidados e a irrigação geralmente ocorre uma ou duas vezes na semana. Isso é possível graças à estrutura construída manualmente, que armazena umidade em seu interior por bastante tempo e vai fornecendo água aos poucos, de acordo com as necessidades de cada espécie e do habitat. Para irrigar a planta basta submergir a bola de musgo em um recipiente com água por poucos minutos e aguardar a drenagem do excesso antes de voltar com a planta para o seu local de origem. É recomendado misturar um adubo líquido na água da irrigação a cada 15 dias, garantindo assim os nutrientes necessários para o desenvolvimento pleno da sua kokedama. Outro ponto de atenção é a retirada das folhas secas ou excessos. Seguindo esses procedimentos, você terá uma planta sempre saudável e muito vistosa.

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O principal fator a ser observado durante a escolha de uma kokedama (e de qualquer outra planta), é a luminosidade natural que ela irá receber no local onde ficará instalada. A partir da incidência luminosa, é que você poderá, de preferência com o auxílio de um profissional adequado, definir a melhor espécie, podendo ser de sol pleno, meia sombra ou luz difusa. Outra observação importante é com relação ao porte da planta uma vez que a técnica permite o uso de várias espécies que vão desde as suculentas até as arbóreas, incluindo as frutíferas.

Fundadores da Kok Nature, o casal Wanderlan Pitangui e Íris Perigolo se encantou pelas Kokedamas durante uma viagem pelo exterior. “Ficamos apaixonados pela poesia dessas plantas flutuantes. Quando chegamos dessa viagem, começamos a pesquisar sobre a técnica e apesar de ser muito antiga, não encontramos muitas informações sobre o processo de confecção da kokedama. Então, como já trabalhámos com paisagismo e tínhamos algumas plantas em casa, resolvemos pegá-las e começar a testá-las nessa forma de cultivo. Com o tempo, fomos verificando quais espécies se adaptavam melhor, os cuidados necessários etc. Apesar de termos começado a fazer kokedamas em 2012, somente em 2016 é que começamos a comercializá-las. E hoje, com nossa experiência, gostamos de trabalhar com espécies mais raras e maiores”, destaca Wanderlan, que também é graduado em Meio Ambiente e pós-graduado em Biologia Vegetal e Biodiversidade. A empresa deles fica em Belo Horizonte e possui um espaço botânico dentro do Grande Hotel Ronaldo Fraga, um multiespaço que hospeda várias marcas de diversos segmentos.

Fotos: Bárbara Dutra

A jornalista Carolina Braga é mais uma dessas pessoas que se encantaram pelo universo das Kokedamas. Apesar de não ter um histórico expressivo de cultivo de plantas em casa, ela decidiu se aventurar pela produção das kokedamas depois que recebeu uma de presente no seu aniversário. Ao pesquisar sobre os cuidados necessários para manter a planta sadia, acabou encontrando alguns tutoriais na internet com pessoas ensinando o passo a passo para fazer a técnica em casa. A partir daí decidiu se arriscar. A ideia era desenvolver uma espécie hobby que fosse capaz de contribuir para que ela conseguisse se desconectar um pouco do celular durante esse período de isolamento social. No decorrer de 6 meses, durante os finais de semana no sítio, na região de Ouro Preto, ela já produziu mais de 30 exemplares. A espécie preferida da jornalista são as orquídeas, mas ela também já experimentou várias outras. “O meu primeiro desafio quando comecei a fazer foi de escolher a muda, entender a particularidade de cada espécie. Eu disparei a fazer como testes, às vezes colocava apenas uma muda, e a bola acabava ficando pequena. Noutras grandes demais. E aí fui aprimorando até encontrar esse equilíbrio. O processo em si já é uma grande terapia”, destaca Carolina.  A atração, segundo ela, se deu tanto pela beleza das Kokedamas quanto pela característica de poderem ser cultivadas suspensas, como se estivessem flutuando, além do fato de não gerar nenhum tipo de resíduo na produção uma vez que todo o material utilizado na montagem é proveniente da própria natureza.

Fotos: Augusto Simeone

Localizada em Lisboa, a FIU Jardins Suspensos, empresa fundada por dois arquitetos paisagistas, foi a primeira marca a investir na produção de kokedamas em Portugal. No início, os profissionais começaram a experimentar a produção das kokedamas de forma totalmente despretensiosa, como uma espécie de terapia, mas o resultados foram ficando tão surpreendentes que eles logo começaram a publicar nas redes sociais e a repercussão positiva fez com que decidissem investir na produção comercial. Hoje, as peças se tornaram o principal produto da empresa. Além de comercia-las, eles também alugam Kokedamas por um determinado período de tempo para a decoração de eventos e também espaços como hotéis, cafés, restaurantes e sedes de empresas, tornando estes ambientes mais verdes e acolhedores.

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Rui Salgado e Thelma Gouveia - responsáveis pela FIU Jardins Suspensos

Entre as espécies mais procuradas pelos portugueses estão as samambaias, suculentas, heras, orquídeas, Costela de Adão, Lírios da paz, Ficus e ainda várias outras como as Oliveiras(para ambientes externos) e as mini-árvores frutíferas, que também fazem muito sucesso por lá. A diferença é que elas desenvolvem apenas a copa e não no comprimento, desenvolvendo floração e frutos normalmente.

“As possibilidades de decoração de espaços interiores com as kokedamas são inúmeras. Podemos “brincar” com a tridimensionalidade destas instalações e “pulverizá-las” por espaços desaproveitados. Diferenciam-se de outras plantas já que normalmente são colocadas sobre uma base estável e plana, e também pelo fato de podermos trabalhar a vegetação em um nível diferente do comum, permitindo o preenchimento de espaços tanto interiores e exteriores que não costumam ser ocupados por plantas”, destaca Telma Gouveia, uma das sócias e responsável pela área de Marketing e Vendas.

Fotos: Telma Gouveia/FIU Jardins Suspensos