ABREU DESTACA – FOTOGRAFIA
Nesta quinta edição, vamos apresentar um pouco sobre o universo do fotógrafo e baiano Manuel Sá. Formado em Arquitetura pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em Geografia, Cidade e Arquitetura pela Escola da Cidade, Manuel vive atualmente em São Paulo, onde possui um estúdio na região da Vila Madalena, e conquistou seu lugar no mercado com um olhar atento e muito particular.
Diana Hanae Guimarães
A paixão pela fotografia teve início durante a faculdade de arquitetura. O objetivo inicial de aprender a operar a câmera era apenas para registrar as obras de João Filgueiras Lima, o Lelé e de Lina Bo Bardi em Salvador. “Lembro com carinho até hoje que, ao descobrir a importância desses projetos para o panorama da cidade, preferia fotografar essas visitas do que desenhar”, destaca o fotógrafo. E foi assim durante bastante tempo. Enquanto fotografava para si, desenvolvia as técnicas que o consagrariam futuramente. Mas finalizou a faculdade e seguiu atuando como arquiteto, inclusive em São Paulo, onde vive desde 2013. Foi só em 2015, a partir de um contato do Archdaily Brasil solicitando suas fotos do Solar do Unhão para uma reportagem sobre Lina Bo Bardi, que ele percebeu a oportunidade de explorar melhor os seus registros. E a partir disso, se lançou no mercado. A criação do seu escritório se deu já em São Paulo a partir da crescente demanda de clientes por fotografias de arquitetura comerciais e autorais e seu portifólio inclui séries autorais além de trabalhos feitos sob encomenda para imagens em diversas cidades.
3 perguntas para Manuel Sá
Como você enxerga essa relação arquitetura x fotografia. Ser arquiteto te faz ter um outro olhar sobre os ambientes/projetos retratados ou procura abrir mão desse lado na hora de fotografar?
A relação entre arquitetura e fotografia é intensa e acontece através do desenho arquitetônico, principalmente com as perspectivas, sejam elas digitais ou desenhadas a mão. Esse cuidado ao compor um desenho e a série de decisões que você precisa tomar como: a posição do observador, a disposição dos objetos, a entrada da luz, o enquadramento do desenho, tudo isso se relaciona profundamente com a fotografia de arquitetura. Dito isso, é essencial dizer que a fotografia de arquitetura não é arquitetura nem desenho. É foto e permanece seguindo as regras da fotografia em todas as decisões, como a escolha do corpo da câmera, da lente, da composição, e por ai vai.
As redes sociais contribuíram de forma muito significativa para dar vazão ao trabalho tanto de arquitetos quanto de fotógrafos da área. Em contrapartida, somos bombardeados o tempo inteiro com uma quantidade incrível de imagens. Na sua opinião, o que faz com que uma foto mereça ser eternizada?
Uma boa fotografia de arquitetura tem por objetivo fazer você esquecer que aquele objeto bidimensional é resultado de uma série de esforços técnicos e logísticos, inserindo o espectador no universo daquela obra. Além de informar o êxito arquitetônico através da interpretação do fotógrafo(a), essa imagem também pode levantar questionamentos, aspectos sociais e tantas outras informações. Pensar numa fotografia de arquitetura eternizada é lembrar, por exemplo, da foto que o Julius Shulman fez da Case Study House 22 em 1960 onde num só enquadramento uma arquitetura de ponta, no seu limite estrutural e estético para a época, comunga com um estilo de vida de duas mulheres conversando na sala enquanto a casa parece flutuar sobre uma Los Angeles noturna e urbana. Fica claro que essa foto ultrapassa o mero registro técnico de uma arquitetura e, como as boas obras eternizadas são, sobreviveu ao teste do tempo.
Foto: Julius Shulman
Em todos esses anos de carreira, existe algum projeto que você tenha um carinho especial por ter fotografado? E por que?
O projeto da Fundação Iberê Camargo, do Álvaro Siza, em Porto Alegre. Visitei a cidade para conhecer o projeto em função da minha profunda admiração pelo Siza e as fotos que postei anos atrás chamaram a atenção de amigos queridos que estavam começando a desenvolver um documentário sobre ele. Acabei sendo convidado para participar dessa empreitada e fico muito feliz em dizer que, após alguns anos de desenvolvimento, esse documentário ficará pronto ainda em 2021.