DESVENDANDO MATERIAIS
Ao longo do tempo, o ser humano utilizou o mármore para fins diversos. Alguns desses usos são bem famosos, como é o caso das esculturas entalhadas no material por artistas renascentistas. Quando se pensa em arquitetura, no entanto, o uso do mármore que mais nos interessa é aquele que ocorre na construção civil e na composição de ambientes que sejam, preferencialmente, agradáveis e úteis. Atualmente, é relativamente comum encontrar essa rocha em uso, graças a algumas de suas propriedades que permitem que componha espaços ao mesmo tempo funcionais e esteticamente impressionantes.
É exatamente por causa da frequência de seu uso que é importante compreender a composição dos mármores e como eles podem ser melhor aproveitados. Afinal, o objetivo de todo consumidor é sempre adquirir – e aplicar nos ambientes em uso – materiais que apresentem bom custo benefício e que se encaixem de maneira eficiente no que se espera de seu desempenho. O leitor pode se surpreender ao descobrir que o mármore não é a rocha ideal para o tipo de construção que almeja. Ou que é, sim.
A verdade fundamental e bela sobre a arquitetura é esta: ela atua na facilitação da vida das pessoas, na medida em que ajuda a planejar detalhadamente espaços que se encaixem com perfeição naquilo que foram pensados para fazer. E a verdade fundamental e bela sobre as rochas naturais – como é o caso do mármore – é que elas podem se adaptar perfeitamente aos ambientes certos, tornando-os mais bonitos e, porque não, um pouco mais especiais e interessantes também.
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Uma informação que pode surpreender: os mármores foram utilizados em inúmeros patrimônios históricos e culturais da humanidade. Um exemplo disso: além do travertino romano (apresentado no texto anterior da série ‘Desvendando os materiais’), a construção do Coliseu também contou com o uso de mármore em sua estrutura. E esse é só um de muitos exemplos, há que se dizer. O material apresenta uma composição única (que será abordada em profundidade posteriormente) que, em alguns casos, garante o casamento ideal, e até mesmo um pouco antitético, entre dureza e maleabilidade.
Os mármores ao longo da história
A proximidade entre arquitetura e arte é palpável. Apesar de estar voltada para a funcionalidade também, além da estética, muitas das grandes maravilhas do mundo são obras arquitetônicas. As pirâmides do Egito são grande exemplo disso – enormes construções, que serviam para fins espirituais e sociais, e que, ao mesmo tempo, são o maior símbolo do país (e de uma civilização) que a maioria das pessoas conhece e importante atração turística até os dias de hoje. É importante ter em mente essa noção da proximidade entre as duas áreas – arquitetura e arte – quando se pensa em uma compreensão profunda dos materiais que podem ser usados no cotidiano e levados para as nossas casas. O mármore é um ótimo exemplo do casamento entre arte e arquitetura.
Um dos tipos mais conhecidos de mármore e, talvez, de extração mais antiga, é o mármore de Carrara (muitas vezes chamado também apenas de mármore Carrara, embora essa forma de escrita esteja equivocada). A extração de mármore na região de Carrara, na Toscana, apresenta registros desde o século I a. C. A região da Toscana é muito conhecida por tratar-se de uma das áreas mais habitadas da Itália e por ser onde se localiza a cidade de Florença.
O mármore de Carrara é de excelente qualidade (apesar de seu preço elevado) e caracteriza-se por sua tonalidade predominantemente branca ou levemente azulada. Além disso, a extração de mármore é uma das principais atividades econômicas da região de Carrara, visto que a rocha é exportada mundialmente e bastante valorizada. O material apresenta grande importância artística e arquitetônica, pois foi a principal matéria-prima utilizada na construção do Panteão e era um dos tipos de pedra preferidas de Michelangelo.
Michelangelo, em vida, considerava a escultura um de seus grandes chamados artísticos e exaltou o mármore de Carrara como uma de suas rochas preferidas para exercer o ofício. Muitas de suas esculturas famosas, como a Pietá e a sua versão do rei Davi, foram esculpidas em mármore. Nem é preciso dizer isso, mas aí vai: Michelangelo estava certo em sua preferência. De acordo com análises científicas mais recentes, o mármore de Carrara é um carbonato de cálcio puro, de estrutura cristalina, o que o torna ideal para o uso em obras arquitetônicas e a matéria perfeita para ser esculpida.
Vale ressaltar, aqui, uma curiosidade divertida: as boas propriedades do mármore de Carrara foram, em algum momento, tão conhecidas, que se transformaram em um famoso dito popular – que trata de semelhanças evidentes entre pais e filhos. Diz-se (ou melhor, dizia-se): “Fulano é a cara do pai esculpido em mármore de Carrara”. Como tende a acontecer com o uso e com a oralidade, a expressão foi se transformando e, atualmente, é difícil encontrar quem a conheça em sua forma original. No entanto, suas variações continuam em uso no português brasileiro.
Compreenda o material
Apesar de ser o mais conhecido, evidentemente, o mármore de Carrara não é o único tipo de mármore branco existente. Outros tipos conhecidos da rocha são: Piguês, Carrarinha, Espírito Santo, Paraná, Calacatta, Thassos, Especial e Prime, por exemplo. As propriedades de cada um variam um pouco conforme a região de onde foram extraídos. Assim como o travertino, o mármore é uma pedra natural, encontrada a partir do extrativismo. Como é o caso com esse tipo de patrimônio, o preço costuma ser um pouco mais elevado em comparação com materiais artificiais, já que sua oferta não é ilimitada.
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Além disso, alguns tipos de mármore são ainda mais caros, pois as rochas podem apresentar pequenas diferenças em suas propriedades (incluindo aqui tonalidade e dureza) dependendo da região em que foram extraídas. Como mencionado anteriormente, o esgotamento de jazidas também pode ser um aspecto significativo para a variação de preços de diferentes tipos de mármore, assim como a forma com que a pedra foi extraída. O mármore pode ser extraído das pedreiras de duas maneiras: através de bancadas ou fossas. O extrativista escolhe a forma de extração, assim como a zona da pedreira que será explorada, ao identificar a região em que a rocha seja de melhor qualidade e em que seja possível aproveitar suas fissuras naturais para o arranque.
De um ponto de vista menos mecânico e mais poético (ainda que o leitor possa considerar a afirmação a seguir apenas factual), os mármores são rochas metamórficas. Isso significa, de forma bem simples, que a pedra é composta a partir do acúmulo de calcário, que se transforma profundamente ao ser exposto a determinadas condições ambientais, especialmente a altas temperaturas e diferentes níveis de pressão. É mais comum que o mármore seja encontrado em regiões cuja rocha matriz seja o calcário, onde ocorreu exposição a altíssimas temperaturas, por razões naturais – um exemplo seria a erupção vulcânica.
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De acordo com a arquiteta Renata Caldeira, o mármore apresenta “grande variedade de opções tanto no que diz respeito a dureza, quanto na variedade de cores e texturas. E são essas diferenças que os tornam tão bonitos, tão nobres e únicos”. Além disso, é por causa dessa variedade que o mármore pode ser trabalhado de formas tão distintas, há materiais mais fáceis e mais difíceis de serem trabalhados, tudo depende das circunstâncias em que a rocha se encontra, o tipo de uso que se deseja fazer dela e a dureza do mármore. Sobre os diferentes tipos de trabalho que se faz com mármore, Renata afirma: “Na marmoraria recebemos os mármores em formato de chapas para serem cortadas para revestimento de pisos, paredes e confecção de peças como mesas, bancadas, etc. O nível de dificuldade desse trabalho é variado em função da dureza e da integridade da chapa. Tem materiais fáceis de trabalhar e outros bem difíceis. Muitas chapas de mármore precisam ser resinadas e teladas para que possam ser manuseadas, pois, são muito frágeis. De qualquer forma, independente da dureza do mármore, é um material que precisa de cuidado no manuseio e confecção das peças”.
É importante, inclusive, esclarecer uma questão fundamental e possivelmente nebulosa para o leitor leigo: mármores e granitos não são o mesmo material. Apesar de apresentarem algumas propriedades similares, suas manutenções e os cuidados que exigem são bem diferentes, assim como o tipo de ambiente em que funcionam de maneira mais adequada.
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Dicas de conservação e aplicação
Conforme mencionado anteriormente, é importante atentar-se aos locais em que se aplica o mármore e a forma como a pedra é tratada. O mármore é um material poroso, de dureza relativamente alta e, em geral, bastante absorvente. No entanto, como toda pedra natural, precisa receber determinados cuidados antes de ser aplicado e, em determinados casos, é importante fazer manutenção da pedra. Além disso, é sempre importante ter em mente que o mármore não resiste bem a abrasões e à exposição a acidez, por isso, não é recomendável que seja utilizado em ambientes como cozinhas e banheiros, onde acaba perdendo seu aspecto esteticamente agradável.
De acordo com Renata Caldeira, o mármore funciona bem em todo tipo de ambiente, mas é importante atentar-se aos cuidados recebidos pela pedra: “para ambientes residenciais ele [o mármore] vai funcionar bem tanto para revestimento de pisos e paredes quanto para confecção de peças como bancadas, mesas, totens, etc. Sugiro apenas não usar em cozinhas e áreas de serviços devido à baixa resistência a abrasão. Já para os ambientes comerciais, sugiro não usar em pisos quando houver possibilidade de grande tráfego de pessoas, pois, será necessária uma manutenção de re-polimento frequente”.
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A arquiteta também oferece algumas dicas para o cuidado com o mármore, para que a pedra não perca sua aparência bela e natural. De acordo com ela, prevenir é sempre a melhor maneira de conservar. Sendo assim, a melhor alternativa seria que o material estivesse sempre impermeabilizado e protegido. Além disso, Renata fala sobre possibilidades para o cuidado diário do mármore, caso o cliente opte por utilizá-lo: “para a limpeza diária, a sugestão é pano ou bucha macia com detergente neutro e em seguida passar um pano para secar, não deixar o mármore secar sozinho, pois, fica com manchas. Para sujeiras mais resistentes, água quente pode ajudar”.
Bibliografia
Textos acadêmicos:
QUINTAS, Armando. Os mármores do Alentejo em perspectiva histórica de meados do século XIX a 2020. 2020. 24p. História e Economia – Universidade de Évora, 2020.
QUINTAS, Armando. Técnicas e tecnologias ligadas ao mármore: uma viagem pela história. 31p.
Matérias online e revistas:
https://prgrupoparana.com/qual-e-a-diferenca-entre-marmore-e-granito/
https://www.sienge.com.br/blog/principais-tipos-de-marmore/
https://passeiosnatoscana.com/os-segredos-do-marmore-de-carrara/