Exposição La Maison de Clarice

Fernanda Nazaré
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Exposição La Maison de Clarice tem curadoria de professora da UFOP

Com curadoria da escritora Guiomar de Grammont, professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e de Vincent Zonca, Léo Le Berre e Roberto Pedretti do Escritório do Livro e do Debate de Ideias da Embaixada da França no Brasil, a exposição La Maison de Clarice traça um paralelo entre a vida e a obra de Clarice Lispector e de suas contemporâneas, Marguerite Duras e Nathalie Sarraute. Valeria Neno realizou a concepção artística e cenográfica, Hiti Foresti a cenografia e montagem e Valter Fadel, o design gráfico. A abertura acontecerá no dia 10 de dezembro de 2021, encerrando o ano do Centenário de Nascimento de Clarice Lispector com um espetáculo baseado na obra das autoras, dirigido por Maíra Lana.

 

Nas palavras de Vincent Zonca, “o centenário nos levou a refletir sobre a importância do legado de Clarice Lispector para os dias de hoje, quando a obra da escritora reafirma sua universalidade, sendo cada vez mais lida e apreciada pelos leitores franceses. O interesse do público francês por Clarice se evidencia no cuidadoso trabalho das Editions des femmes – Antoinette Fouque ao editar, uma a uma, todas as obras da autora”. Léo Le Berre ressalta que “a França foi o primeiro país a publicar uma tradução de Clarice, com Perto do coração selvagem, em 1954, uma década depois da aparição do livro no Brasil”.

 

A comparação entre Clarice Lispector, Marguerite Duras e Nathalie Sarraute é natural, pois elas se encontram no cerne da experimentação romanesca que conhecemos no século XX, sendo fonte privilegiada de inspiração e influência para autores e leitores de todas as partes do mundo. Suas escritas literárias são muito diferentes entre si, porém, guardam algumas semelhanças fundamentais que permitem um olhar aproximativo sobre suas obras.

Divulgação

Dentre essas características, segundo Guiomar de Grammont, “se encontram a ausência de linearidade, enfim, a recusa de uma explicabilidade ou causalidade na ação. O romance não visa o entretenimento, pelo contrário, muitas vezes produz uma sensação de estranhamento diante da realidade, em uma atmosfera por vezes enigmática e desconcertante. A experimentação de novas formas de escritura, intencional ou não, levou essas escritoras a romperem com a fórmula do romance tradicional.  A intriga passa para o segundo plano, o desenvolvimento dos personagens se torna menos importante e cede lugar à introspecção e à vida interior, que passam a ocupar o centro da narrativa.  As três são narradoras da intimidade, utilizam o estilo confessional para nos fazer mergulhar em uma atmosfera por vezes enigmática e desconcertante, pontuada por revelações epifânicas”. 

 

Essa ruptura fundamental com o romance tradicional se caracteriza também pela ausência de linearidade na narrativa. Tanto para Clarice Lispector, quanto para Duras e Sarraute, o romance não é percebido como um encadeamento de aventuras que leva a uma conclusão. Léo Le Berre acrescenta que, « como na fórmula de Jean Ricardou a propósito do Nouveau-roman, para elas, “o romance é menos uma escrita de aventuras do que uma aventura da escrita”.

 

Roberto Pedretti lembra que “Clarice, Marguerite e Nathalie são mulheres notáveis que atravessaram o século XX e participaram desses acontecimentos sempre se solidarizando com aqueles que lutavam contra a ascensão do Nazismo. Enquanto Clarice se voluntariava como assistente de enfermagem, cuidando dos soldados brasileiros feridos na guerra, Marguerite Duras e a judia Nathalie Sarraute se integravam à Resistência, na França”.  

sobre a exposição

A exposição apresenta a estrutura de uma “casa”, em que Clarice recebe suas convidadas, Nathalie e Marguerite. Nessa casa, a “Cozinha”, por exemplo, faz referência ao processo criativo das escritoras e à forma como definiam a escrita. O visitante é convidado também a conhecer, entre outros aposentos, a intimidade do “Quarto da Escritora”, onde se encontram os textos mais confessionais das autoras. No centro da exposição, o “Salon” ou “Sala de Visitas” descortina as relações de Clarice Lispector com a França; com o Teatro da Maison de France e com a literatura francesa, a partir de um encontro em 1969, no Rio de Janeiro, da escritora com Alain Robbe-Grillet, considerado o “papa do Nouveau-Roman”.

 

As fontes escritas selecionadas para a mostra foram os romances, contos e crônicas, mas sobretudo a obra missivística e as entrevistas. Como foram realizadas para diferentes “escutas”, oferecem nuances por vezes contraditórias, o que deve ser percebido como uma riqueza e um desafio à interpretação. Clarice se mostra sob suas máscaras: terna e maternal com suas irmãs, desmanchando-se em charme e humor para seus amigos escritores, evasiva e distante perante seus entrevistadores. Na exposição, apresentamos fragmentos dessas fontes, sobretudo das cartas e entrevistas, bem como fotos, imagens de arquivo, livros de Clarice publicados na França, artigos sobre esses livros. A exposição oferece ainda formas lúdicas de interação com o público, convidando-o a escrever mensagens para Clarice. 

Uma contribuição importante e inédita

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Uma contribuição importante e inédita apresentada pela exposição é o mapa de Clarice no Rio, com os principais pontos da cidade em que ela viveu ou que foram imortalizados em sua obra. O mapa foi preparado, a pedido da curadoria, pela pesquisadora Teresa Montero, a partir de seu livro O Rio de Clarice: passeio afetivo pela cidade, publicado pela editora Autêntica em 2018, que apresenta os locais, no Rio de Janeiro, por onde Clarice andou, morou e desenvolveu sua arte literária.

exposição La Maison de Clarice

Encerramento: às 19hs do dia 18 de março 2022
Endereço:  Consulado da França no Brasil (Bibliomaison 11°andar)
Casa Europa – Av. Pres. Antônio Carlos, 58 – Centro
Rio de Janeiro – RJ, 20020-010
Horários de abertura: Segundas, quartas e sextas, de 13 às 17h
É necessária comprovação vacinal.

Entrada Franca