Mogno Africano vem conquistando mercado brasileiro

Fábio Gomides
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 MADEIRA NOBRE

Conhecido por sua versatilidade, o mogno africano já é uma das madeiras nobres mais cultivadas no Brasil em função de inúmeros fatores. Os primeiros deles são a certamente a beleza e também a versatilidade. Ela pode ser utilizada para fabricação de móveis, adornos, objetos, revestimentos e até mesmo na construção civil e naval, além de diversas outras finalidades, suportando diversos tipos de acabamento. De tom rosado e castanho mais avermelhado, essa madeira se adaptou muito bem ao solo brasileiro e o país já contabiliza um número crescente de produtores da variedade. Outro motivo substancial para ao aumento da presença do mogno africano por aqui é certamente a rentabilidade desta madeira, além do grande interesse pelo mercado internacional. O metro cúbico da madeira em pé final pode chegar a 200 euros. Quando serrada, seca em estufa, pode valer até 1.000 euros. Entre os maiores compradores estão países como Estados Unidos, França e China. Mas o mercado interno já utiliza cada vez mais o mogno africano, que vem sendo descoberto tanto pela indústria quanto pelos consumidores brasileiros. Além de todos esses fatores econômicos, a madeira tem se mostrado de fácil manuseio, encantando agentes das indústrias moveleira, de pisos e de laminados.

Fotos: Divulgação

A espécie possui um tempo reduzido de crescimento. Sua maturação ocorre entre 15 a 20 anos após o plantio, tempo considerado curto se comparado a outras espécies de madeiras nobres. Para os pretendem um maior retorno financeiro do investimento, o ideal é aguardar pelo menos 18 anos, quando a madeira alcançará maior produtividade na serraria e diversidade em produtos acabados. O diferencial está justamente nessa possibilidade de manejo sustentável uma vez que outras madeiras nobres costumam ser extraídas de forma totalmente irregular, sendo responsáveis pelo desmatamento de florestas nativas, impactando negativamente na fauna e na flora de diversos ecossistemas. 

Minas Gerais é hoje o estado com a maior área plantada (66% de toda a plantação brasileira), mas a espécie também pode ser encontrada em São Paulo, Bahia, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Santa Catarina. O cultivo faz parte da cultura e da economia de 47 municípios brasileiros ao todo.

A espécie foi introduzida no país em 1975 quando o professor Ítalo Falesi, que na época era diretor e pesquisador na Embrapa, ganhou as sementes de presente de representantes do Ministério de Águas e Florestas da Costa do Marfim, que alegaram se tratar do que classificavam como “ouro do futuro”, sem especificar na época qual era a espécie em questão. As sementes foram plantadas na sede da Embrapa, no Pará, e a identificação só ocorreu em 1992 a partir do reconhecimento da espécie Khaya Ivorensis, que se adaptou muito bem ao nosso solo e clima.

Fotos: Divulgação

O mogno africano pode ser utilizado na fabricação de móveis, adornos e objetos

Criada em 2011, a Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano, a ABPMA, surgiu a partir da união dos silvicultores do mogno africano no Brasil. O objetivo da associação é contribuir para a disseminação de informações acerca da espécie, do cultivo e também gerar oportunidades comerciais para o setor, fomentando a cadeia produtiva e contribuindo para formar o olhar do público consumidor. Hoje a entidade reúne um número expressivo de plantadores, que detém pelo menos um quarto da quantidade total de todo mogno plantado no país. Luciana Maluf, uma das diretoras da ABPMA e proprietária do Viveiro Origem. Entre os clientes que a procuraram interessados em mudas está o cineasta, produtor e roteirista Fernando Meirelles, que já adquiriu mais de 20 mil plantas.

“Criamos grupos de trabalhos e discussões técnicas, grupo de investimento e financiamento, grupo de pesquisas sobre a qualidade da madeira e o grupo de comercialização. Muitas outras ações são realizadas em prol de tornar o Brasil o maior produtor de florestas plantadas de mogno africano, pois só assim teremos uma grande oferta no mercado. Nossas maiores dificuldades são a falta de informações de experiências anteriores como qual seria o melhor espaçamento, as melhores práticas do cultivo, como o adensamento influirá na qualidade da madeira e outras questões relativas a não termos concluído um ciclo completo no Brasil ainda. Mas o que nos anima é a beleza e versatilidade da madeira, além do valor que nossa produção vem atingindo no mercado internacional e do desejo que existe por esta espécie”, destaca Patrícia Alves Fonseca, Diretora executiva da Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano – ABPMA.

Fotos: Divulgação

O mogno africano suporta diversos tipos de acabamento 

A Khaya Woods é uma das empresas produtoras de mogno africano no Brasil e Raphael Valle, um de seus fundadores, destaca as propriedades da espécie que o levaram a se tornar um empreendedor na área: “A madeira de mogno africano possui uma versatilidade excelente para a marcenaria e indústria moveleira. Além disso, e muito fácil de ser tonalizada e de dar acabamento, deixando o aspecto final com uma estética diferenciada. Além disso, a madeira desgasta muito pouco os equipamentos da marcenaria, economizando na manutenção da fábrica. A principal diferença entre o mogno africano e as outras madeiras plantadas, é que o mogno é uma espécie tropical de madeira nobre, enquanto a maioria das outras espécies plantadas não se tratam de madeira nobre, portanto não possuem as excelentes características do mogno para a marcenaria”.

Ele ainda ressalta que arquitetos, designers, marceneiros e indústrias que tiveram a oportunidade de trabalhar com o mogno africano ficaram bem impressionados com suas características e resultado final, seja como um elemento decorativo ou como matéria-prima para a fabricação de móveis.

Foto: Divulgação

Painel em mogno africano no ambiente de Ana Paula Fonte – CASACOR Minas 2018

Mas embora possua um valor elevado de venda, Raphael alerta que o cultivo do mogno africano também é mais caro que outras espécies de madeira. “Ele depende bastante de água. Se a região não tiver quantidade suficiente de chuvas, o plantio precisa ser irrigado), e depois porque existem algumas pragas que podem ataca-lo (formigas, abelhas, colchonilhas, lagartas, fungos, brocas, etc). Comparando com o eucalipto, por exemplo, o cultivo do mogno é bem mais caro. O que vai compensar é o preço do mogno no corte final, que vale bem mais que o preço do eucalipto”.

O fato é que a beleza e a durabilidade dessa madeira contribuíram para torná-la objeto de desejo em um mercado bastante competitivo e ávido por novidades a todo instante.

A arquiteta e designer Juliana Vasconcelos soube explorar de forma muito criativa todas as potencialidades do mogno africano, criando peças que se destacam pelo design original e pela leveza.

Foto: Divulgação

Cadeiras de Juliana Vasconcelos em mogno africano

Considerado um dos mestres da marcenaria no Brasil, Paulo Alves já vem trabalhando com o mogno africano desde 2015. Um dos seus primeiros produtos criado com a madeira foi o aparador mogno. Em seguida, veio a bandeja Mar. Desde então, ela já criou outras peças. Inclusive Paulo Alves reproduziu alguns de seus maiores sucessos em mogno africano para a edição 2019 da Semana Criativa de Tiradentes, quando assinou o Hub de Conteúdo para a Westwing, parceira do evento. As peças confeccionadas na madeira foram as cadeiras Bo, em homenagem à Lina Bo Bardi, o banco Samba e a mesa Jô.

Ao contrário do que muita gente possa imaginar, o mogno africano não é uma simples tendência. Por causa da sua versatilidade e inúmeras possibilidades de acabamentos e tinturas, podemos dizer que trata-se de uma madeira que veio mesmo para ficar. Portanto, não tenha nenhum receio de investir em uma peça produzida com a madeira. Pelo contrário, você vai se apaixonar por ela. E ainda estará contribuindo para o fim da exploração ilegal.