Mulheres da GenZ e ‘millennials’ dominam 76% dos registros de arquitetura e urbanismo, revela estudo
Assinando o olhar feminino da planta aos canteiros de obras, a arquiteta Rafaela Giudice revela como essas profissionais mudaram as dinâmicas do cotidiano, fluxos de trabalho e às necessidades práticas dos moradores.
Por Assessoria de Comunicação

Segundo as últimas estimativas do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR), a nova geração de arquitetas devem liderar os canteiros de obras nos próximos anos. Ocupando boa parte da Geração Z e uma fatia dos millennials, as profissionais mais jovens dominam 76% dos registros ativos no CAU, até os 29 anos de idade.
Pavimentando esse caminho, a representatividade feminina no setor de “construção civil” contribuiu para avanços significativos na área, apesar dos anos de represália. O contraste entre as décadas, evidenciado nos registros do CAU/BR, mostra que entre a faixa etária de 70 à 79 anos, cerca de 70% dos cargos são ocupados por homens, enquanto apenas 30% são assinados por mulheres.
Apesar do reconhecimento tardio, a assinatura feminina na arquitetura já é visível na reconfiguração urbana, seja em plantas residências ou projetos megalomaníacos. Nomes como Zaha Hadid, pelo “Centro Heydar Aliyev”, no Azerbaijão; Gabriela Carrillo, pela “Casa de la Música”, no México; e Jeanne Gang, pelo “Arcus Center for Social Justice Leadership”, em Michigan; são exemplos de como a arquitetura têm se transformado através do olhar sensível e experiente das mulheres.
No Brasil, a arquiteta e designer de interiores Rafaela Giudice, 36, integra o olhar feminino das ‘millennials’ na arquitetura, que se profissionalizaram e cresceram diante de situações desconfortáveis, entre os anos de 2014 e 2015. À frente do escritório BESPOKE DELA, Rafaela observa um horizonte mais plural e diverso nessa nova década, diferente de quando adentrou ao cenário de arquitetura.

“Cerca de uma década atrás, eu ainda sentia que precisava me impor por ser mulher, em um âmbito majoritariamente masculino. Hoje, felizmente, não passo mais por isso. Pelo contrário, considero muito significativo ser uma mulher à frente de uma obra. E o respeito que recebo no ambiente de trabalho me dá ainda mais segurança. No fim, essa transição ao longo dos anos é algo que realmente me enche de orgulho”, explica a arquiteta.
Logo quando passou à atuar com gerenciamento de obras rápidas, Rafaela lembra que os desafios no ‘trabalho em campo’ foram os mais marcantes. Lidando com resistências exclusivamente por causa da presença feminina no início da sua carreira, a especialista destaca que foi justamente esse mesmo “olhar” e a expertise que, mais tarde, conquistou o respeito da mão de obra local. “As arquitetas da Geração Z e dos millennials estão redefinindo o setor ao aliar inovação tecnológica a uma visão mais inclusiva e socialmente consciente. Esse novo olhar, mesmo incompreendido à priori por quem é antigo no setor, impulsionou mudanças significativas na forma como os espaços são planejados e construídos, tornando a arquitetura mais plural, representativa e alinhada às demandas contemporâneas”, explica.
Segundo a arquiteta, a ampliação da presença feminina nos canteiros de obra tem contribuído para mudanças significativas na forma como os projetos são concebidos e executados. A especialista observa que a atuação das mulheres na arquitetura incorporou uma visão mais atenta às dinâmicas do cotidiano, aos fluxos e às necessidades práticas dos moradores. Esse olhar apurado resulta em espaços mais funcionais e integrados à realidade das famílias, ganhando cada vez mais reconhecimento por parte de clientes e equipes técnicas.
Para além dos projetos, Giudice destaca que o olhar feminino traz uma sensibilidade única para o planejamento urbano, valorizando aspectos como sustentabilidade, acessibilidade e bem-estar social. Essa perspectiva mais ampla contribui para projetos que vão além da estética, promovendo ambientes inclusivos e acolhedores. Para ela, a crescente presença das mulheres na arquitetura redefine conceitos tradicionais e visa à transformação completa do setor, abrindo espaço para inovações que reflitam as reais necessidades da sociedade contemporânea.
“Ser uma mulher arquiteta vai além de idealizar espaços; é participar ativamente da execução, estar presente no cotidiano intenso do canteiro de obras, que ainda é majoritariamente masculino, e conquistar o respeito genuíno daqueles que trabalham ao seu lado. Esse reconhecimento, construído na prática diária e no relacionamento humano, representa para mim uma vitória ainda maior do que qualquer elogio formal de cliente, pois reflete a quebra de barreiras e a afirmação do meu lugar em um ambiente historicamente desafiador para as mulheres”, conclui.