Ressignificação da profissão – esse é o mantra

Roberto Costa Farias
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Como o arquiteto e Urbanista visa se situar no atual contexto de mercados com maior velocidade de mudanças e prerrogativas?

Quando, estimados leitores, fui honrosamente servir como conselheiro estadual e coordenador da câmara de arquitetura e urbanismo do CREA -AL (CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DE ALAGOAS) como profissional ainda recente, em um conselho multidisciplinar que regulamentava a profissão dos “Arquitetos”, “Engenheiros Arquitetos” e “Arquitetos e Urbanistas”, sendo essa última denominação constante do meu título, o dia do profissional de Arquitetura se comemorava anualmente em 11 de dezembro.

Desde que os Arquitetos saíram do sistema CONFEA-CREAS, para criar seu conselho próprio, o CAU, Conselho de Arquitetura e Urbanismo, profissão com nome e sobrenome, o dia do Arquiteto passou a ser 15 de dezembro, data que aniversaria o mais reconhecido, festejado e longevo dos profissionais brasileiros, o “Engenheiro Arquiteto”, Oscar Niemeyer, carteirinha n° 01 do CAU – BR.

Passei a comemorar o dia do Arquiteto e Urbanista em duas datas, onze e quinze de dezembro. Na semana que passou, a segunda feira foi o 11 e a sexta feira na sequência foi o 15.

Passei a semana trabalhando no que mais gosto desde que entrei na Universidade Federal de Alagoas, no ano de 1984 aos dezoito anos. O curso de Arquitetura e Urbanismo tinha aqui nas Alagoas 10 anos, formava bons Arquitetos desde 1979 pois iniciou em 1974. Com uma interessante base de professores oriundos das bancas da vizinha UFPE, consolidada como escola de eixos modernistas, e tendo em seu elenco de docentes, arquitetos formados no sudeste do país a exemplo de Acácio Bórsoi, e no estrangeiro como Delfim Amorim, português.

A construção civil em Recife sempre sobressaiu desde a ocupação holandesa dos anos 1624-1654, onde as pontes e os ganhos territoriais ao mar foram significativas marcas do Urbanismo dos batavos. Sobrados de 4 pavimentos, com porões elevados e mansardas também agregaram ao modelo português.

Foi nos anos 1930 com a caixa d’água de Olinda, na casca de esconde e revela dos cobogós que o modernismo deu as caras na chamada Veneza Brasileira.

Olho em retrospectiva para todos esses anos, agora tenho 58 e estou a quarenta anos, observando, praticando, estudando, aprendendo, ensinando, fazendo, comendo, desenhando, esboçando, debatendo, falando, escrevendo, vivenciando, respirando e transpirando Arquitetura e Urbanismo. Graças a Deus.

Tive a sorte de começar a estagiar no primeiro ano (e voltei em diferentes ocasiões) da escola em um produtivo e eficiente “Atelier de Arquitetura”, com projetos de casas, restaurantes, lojas e loteamentos nos nichos de construção, paisagismo e interiores. Tive a boa oportunidade de mesclar três temporadas distintas com estágios em mais dois outros escritórios de projetos e uma construtora do vizinho estado de Sergipe, que teve um núcleo em Maceió.

Fui com vagar, entre a prancheta e a prancha de Surf traçando a lápis no papel e nas águas minhas linhas. No meu tempo e dentro da geometria própria da evolução sequencial dos dias. Observar e absorver. Na busca incessante de apreender o espaço, a luz, a ventilação e tantos condicionantes.

A verdade dos materiais arrancada na aguda percepção de exímios artistas e operários da técnica precisa de construir. Construir com precisão e preciosidade.

Mas, foi no caminho profissional e digo aqui, no calor do bom combate, que me vi enfrentando desafios, desenvolvendo ideias, soluções e absorvendo variados campos de atuação, é verdade que a Arquitetura e o Urbanismo te dá régua e compasso, no começo dos estágios, na elaboração volumétrica das maquetes e perspectivas para os colegas, pintura de camisetas, confecção das vitrines de lojas e ornamentação de festas nos municípios do interior. O espaço é matemático, físico, químico e biológico. O espaço é lógico, dinamismo e fruição. O espaço bem direcionado é o melhor remédio, assepsia visual e mental. O espaço acolhe e promove. Incita, estimula e descansa.

A Arquitetura e o Urbanismo, junto ao paisagismo, o design e a história me levaram de modo afável, outras vezes, na marra em muitos campos do conhecimento das teorias e das práticas.

Continuo me deixando levar.

Fui treinando e treinando, e uma vez preparado para a prancheta me vi no campo, nas obras, em restaurações. De uma hora para outra chegaram os programas e os computadores.

Arquitetura é tradução e tradição! Espaço é uma condição da existência.

Ajudei a fundar em 2000 o primeiro curso de universidade particular em Arquitetura e Urbanismo, fui o primeiro professor Arquiteto dentre engenheiros e o primeiro coordenador. Foi um “trabalho sério e consistente” como definiram as professoras visitantes na primeira avaliação, quando o curso havia avançado dois anos e meio, na metade portanto, as Arquitetas Doutoras Isabel Eiras (UFRJ) e Cláudia Loureiro (UFPE). Formamos o primeiro time de professores e a primeira turma foi graduada. Passei quinze anos nessa jornada em paralelo ao serviço público onde pude trabalhar com Recursos Naturais, Patrimônio Histórico, Agência de Regulação, Habitação de Interesse Social, Desenvolvimento Urbano, Infraestrutura e Recursos Patrimoniais. Ocupando cargos de diretoria. Em paralelo o meu escritório próprio desde 1993 onde pude alternar parcerias e colaborações com muitos colegas. Sempre realizando Projetos significativos e com boa qualidade de obras.

Arquitetura tem se modificado, principalmente na forma de ampliar o atendimento social e a contribuição da tecnologia e dos programas são parte desse amálgama.

Texto de autoria de Roberto C. Farias, publicado na Coluna UrbaNauta do portal Notícias do Centro – A VOZ DO BAIRRO ONDE MACEIÓ NASCEU