Em São Paulo, casa da década de 60 ganha respiro contemporâneo em reforma que integra jardim, áreas sociais e estética afetiva
Trazendo o charme retrô do tijolinho, ladrilho hidráulico e ‘Taco Parquet’, a arquiteta Rafaela Giudice explica como as construções modernas se afastam da ‘setorização’ marcante das residências antigas.
No coração de São Paulo, um oásis urbano de 180m², construído em meio ao ritmo frenético da megalópole nos anos 60’, ganhou novos ares sem perder a riqueza dos detalhes arquitetônicos. Mais de meio século depois da fundação, a residência foi arrematada por novos proprietários, que preservaram o conceito “retrô” em meio às reconfigurações modernas.
Topando mais um desafio, o projeto ‘Conquista’ recebeu a assinatura da arquiteta Rafaela Giudice. À frente do escritório BESPOKE DELA, ficou à cargo da expert propor uma solução habitacional para o casal de proprietários e sua filha de 3 anos, que integrasse não apenas as histórias e o aconchego, mas os cômodos da casa.
No Brasil, a cena se repete. Em muitos casos, o cronograma é elaborado no escritório, entregue à obra e raramente atualizado conforme o avanço real. O resultado é previsível: retrabalho, improvisos e a rotina de “apagar incêndios”.
O ponto de partida do projeto foi a relação da família com o espaço. Segundo Rafaela, “os clientes sabiam exatamente o que queriam no lar e, quando os desejos são nítidos, o projeto flui de maneira mais natural. Neste caso, era visível o esforço que fizeram para transformar o sonho em realidade. Até por isso o nome do projeto: Conquista”, explica.
Reconhecida pelo Método Traço, a arquiteta conseguiu traduzir o desejo da família em criar soluções inteligentes e cômodas para o cotidiano. Uma delas era adaptar a entrada da casa em um espaço que a filha pudesse brincar, enquanto se ocupavam com outras tarefas. “Embora seja mais estrutural, adaptamos uma porta ‘camarão’ de alumínio preto e vidro transparente, com 100% de abertura. Isso fez com que a sala e o jardim existente se integrassem naturalmente, conferindo também mais iluminação e reforçando a sensação de integração”.
Ao observar a planta do projeto, a arquiteta explica que as construções mais antigas costumavam ser mais setorizadas. “É impossível não se surpreender com o quanto antes tudo era fechado e compartimentado. Cada espaço cumpria uma função isolada, refletindo a época das reformas anteriores, quando os cômodos eram setorizados ao extremo e a cozinha permanecia separada da área social. Hoje, a cozinha se torna o coração do lar, integrada e central, conectando visualmente todos os ambientes e permitindo que o convívio flua naturalmente. Isso reflete muito as mudanças que, como sociedade, fomos conquistando com o passar dos anos”.
Adentrando a sala, o piso de madeira estilo ‘taco parquet’ (taquinho), escondido sob um carpete antigo, foi restaurado para valorizar a estética original retrô e criar a continuidade visual entre os ambientes. A parede de tijolinho teve todo o reboco, massa e tinta removidos para revelar a textura natural do material, conferindo um toque de autenticidade e memória ao lar.
O lavabo recebeu um ladrilho hidráulico 10×10 cm da Dalle Piage, escolhido por sua resistência e pela possibilidade de criar padrões visuais que dialogam com o restante da casa. Outro destaque deste cômodo foi a criação de uma segunda porta, em alumínio preto com vidro fosco, que dá acesso à área externa. “Como criamos uma área para piscina, também decidimos implantar um outro acesso à casa. Assim, em dias de churrasco e piscina, ninguém vai precisar entrar molhando os pisos”, brinca.
Nos banheiros, a escolha de revestimentos Portinari e bancadas em granito Itaúnas escovado busca aliar durabilidade, praticidade e beleza, essenciais para o conforto de uma família. A marcenaria personalizada em tons como Verde Jade, Alecrim e Sky Vel criou organização e áreas de armazenamento discretas, integrando estética e funcionalidade.
Enquanto isso, a cozinha combina porcelanato Manhattan Gris 83×83 cm com armários em MDF Azul Secreto e Freijó, garantindo que o espaço seja ao mesmo tempo elegante e funcional, capaz de suportar o uso diário sem perder a leveza. “Cada decisão, aqui, visa que o espaço seja acolhedor, eficiente e visualmente agradável, refletindo cuidado com detalhes e atenção às necessidades reais da família”, comenta.
O quintal e a área externa também receberam atenção especial. A piscina revestida com Decortiles Atol Água se conecta à área gourmet equipada com pergolado de alumínio e vidro, churrasqueira em Castelatto Pedra Moledo Natural e bancada em quartzo branco. A intenção, segundo Rafaela, era integrar a cozinha com a área dos fundos, que foi totalmente reconstruída para valorizar o lazer e a funcionalidade entre ambientes. “A fluidez entre interno e externo permite que a família aproveite cada canto da casa. Sabendo disso, nós criamos essa piscina aquecida (quase um ofurô), que é equipada com uma proteção especial para a filha pequena dos clientes; além de uma área de lazer, com churrasqueira, para receber amigos e familiares”.
Segundo a arquiteta, o que torna o projeto realmente inspirador é a capacidade de transformar imóveis antigos em novos lares cheios de histórias. “Acho mágico poder dar um novo uso para casas que estavam fechadas há anos, que guardam tantas memórias. Tomar partido da estrutura e criar um lar onde novas memórias possam ser construídas é um processo que envolve emoção e responsabilidade. As referências que os clientes trouxeram foram fundamentais, mas o principal é que tudo faça sentido para quem vai morar na casa”, explica.
Outro destaque é a paleta de cores do projeto, que percorre tons suaves e neutros como Nuvem de Papel, Biscoito Caseiro, Rio Paine e Nata, conferindo unidade e aconchego a cada ambiente. O resultado é um lar que mescla o contemporâneo e o “retrô”, valorizando sempre as preferências dos futuros moradores.
Saber representar a personalidade dos clientes é o principal estilo do escritório. É aquela sensação de entrar em um espaço e se encantar sem conseguir identificar exatamente o que é. Estamos presentes, mas o protagonista é o cliente”, conclui.
