Novamente estamos na estrada

Roberto Costa Farias
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Em nossa existência, tão importante quanto a experiência, deverá ser a oportunidade e a liberdade de produzir mudanças valiosas, aprendi isso enquanto era um professor dedicado da faculdade de arquitetura e urbanismo, desfrutando das minhas aulas.

Serra Verde, orvalhada pela neblina, essa composição remete ao grande pernambucano Alceu Valença cantando Espelho Cristalino, “olho d’água sangrando numa fonte”; no intuito de atender a arquitetura nossa de cada dia, nos deslocamos para dentro de nossa Alagoas e do vizinho Pernambuco, estamos de folga de alguns afazeres e em ebulição em outros compromissos: talvez seja o “descansar enquanto se carrega pedras”. É impressionante como uma coisa chama outra e em nossa memória lateja, a frase do luminar Roberto Burle Marx, maior paisagista moderno do Brasil, já desaparecido. Burle Marx anotou entre tantas falas: “As estradas do Brasil devem ser atentamente cuidadas, são elas que revelam ao viajante atento, toda a beleza e diversidade natural do nosso imenso país”.

Pingos de chuvisco sobre o parabrisas nos trazem o misto da comoção com o alerta para com o redobrar de cuidados na auto estrada.

Também aprendi com os de Pernambuco, no verão, às praias; no inverno, às serras.

Antes mesmo, Alagoas e Pernambuco já foi uma coisa só. Só dos Caetés, depois do Coelho donatário em capitania. A terra massapê que forjou nossa carne mestiçada, castiça. E o sangue adoçado pela cana. Caiana, Fita, entre tantas, uma mais bonita e outras em ondulantes e verdes canaviais. A paisagem é agora outra, fruto das ações antrópicas.

Estamos indo para adiante em molhado outono, para o inverno, menos de um mês.

Em relação a menção de inverno, as festas joaninas fornecem as expectativas sob a tônica do milho de experienciar, as alegrias advindas da musicalidade e festejos desta época tão cara ao povo nordestino. As perspectivas do comércio, hotelaria e serviços se voltam para atender com presteza essa demanda celebrada.

O enfoque na paisagem não é apenas deleite para o olhar, senão para todos os sentidos na complementaridade que pede o corpo e o espírito. Somos parte integrante e parte integrada ao natural.

Anda o serviço a contento, as nuances nos encontram coordenadas, pessoas colaborativas se agregam ao objetivo coletivo.

Cenários reconfortantes avançam para o sombreado meio dia.

Atentemos para os pormenores, assim como para a relação com o todo.

“Deus, habita nos detalhes”. Mies Van Der Rohe.

A estrada nos chama: é chegada a hora de voltar.

De voltar.

De voltar.

Então, as paralelas e os pneus nas linhas das ruas, são duas, estradas nuas e que nos remetem ao cearense Belchior.

Sucessivas cores dançam harmonicamente sob a luz do entardecer.

O mundo de meu Deus é a perfeita harmonia das cores e o louvado perfume das flores.

De modo que somos brindados com a alvissareira lua cheia!

E novamente voltamos ao Alceu Valença: “Olhei para Lua e me lembrei de Gonzaga”.

E as luzes da cidade nos avisam que chegamos.

Reflitam, caríssimos e atentos urbaNAUTAS, o território também se conhece e se domina pelo salutar e necessário deslocamento. O artista tem que ir e vir. Somos todos artistas, artífices de nós mesmos e de todos que estão ao nosso redor. Fazer ser feito. Assim seja.

 

Ensaio dedicado
as boas ideias.

Texto de autoria de Roberto C. Farias, publicado na Coluna UrbaNauta do portal Notícias do Centro – A VOZ DO BAIRRO ONDE MACEIÓ NASCEU