PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: O CUSTO DA INÉRCIA E O PAPEL DA LIDERANÇA
Autora: Daniela Lopes, Chief Sales Officer da We Are Group

O setor de construção civil no Brasil está em um ponto crítico. Enquanto muitos outros segmentos abraçaram a digitalização, o planejamento estratégico e a tecnologia de forma acelerada, a construção segue presa a práticas que hoje se mostram obsoletas. Para os líderes empresariais que querem liderar – e não apenas reagir -, entender esse hiato de produtividade é fundamental para sair do ciclo de mediocridade.
A produtividade que não avança
Um dos relatórios mais robustos sobre o tema, do McKinsey Global Institute, mostra que, globalmente, o crescimento da produtividade no setor de construção foi, em média, de apenas 1% ao ano nas últimas duas décadas – enquanto a economia como um todo cresceu 2,8% ao ano no mesmo período.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor produziu, em 2022, valor bruto de R$ 415,6 bilhões em obras e serviços, empregando cerca de 2,3 milhões de pessoas – mas o crescimento ainda é moderado e os desafios, numerosos.
Estudos de consultorias especializadas apontam que, com a adoção de soluções digitais adequadas – modelagem BIM, automação, planejamento integrado -, o setor teria potencial de ganho de produtividade de até 50% a 60%.
Esses números não são apenas estatísticas: são sinais de alerta para quem dirige empresas e precisa tomar decisões estratégicas.
Esse cenário se torna ainda mais desafiador diante da nova dinâmica do mercado de trabalho. De acordo com dados recentes do IBGE e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a taxa de desemprego no Brasil está em torno de 7,5% – o menor nível desde 2015.
Em teoria, trata-se de uma boa notícia. Mas, na prática, menos desemprego significa menor oferta de profissionais disponíveis, e o impacto é amplificado na construção civil – um setor historicamente caracterizado por alta rotatividade e forte dependência de mão de obra técnica.
Funções como engenheiros, mestres de obra, técnicos de segurança e operadores especializados estão cada vez mais escassas, e a formação desses profissionais leva tempo. O resultado é que os custos sobem, os prazos se alongam e os investimentos se retraem, justamente quando o setor mais precisa acelerar.
Nesse contexto, a capacitação das lideranças e a transformação cultural deixam de ser temas secundários: tornam-se a única estratégia viável para sustentar crescimento e produtividade.
Por que essa defasagem persiste
- Cultura do imediatismo e do “resolver na obra”
O pensamento prevalente de que “planejar custa tempo” e que o “jeitinho resolve” afasta o foco do projeto, do cronograma estrutural e da eficiência. Isso mina a competitividade. - Resistência à tecnologia e falta de capacitação profissional
Mesmo com tecnologias maduras – como pré-fabricação, montagem otimizada e plataformas digitais de gestão -, o setor esbarra na falta de mão de obra preparada e na mentalidade de que “sistema = burocracia”. Essa combinação impede a inovação.
3. Ambiente econômico instável e pouca disposição para investimentos estruturais
A instabilidade macroeconômica, a alta variabilidade no custo de insumos e a sensação de risco elevado fazem muitas empresas retraírem investimentos (capex), mantendo processos tradicionais que já não funcionam bem no contexto atual.
Por que isso interessa ao líder de empresa
Para os gestores que buscam crescer, ganhar mercado ou simplesmente manter relevância, essas defasagens significam:
- Custo mais alto: menores índices de produtividade elevam o custo por m² e incham orçamentos.
- Prazo mais longo: a entrega se torna imprevisível, gerando insatisfação de clientes e risco reputacional.
- Qualidade inferior: falta de planejamento, mão de obra despreparada e tecnologias subutilizadas comprometem o resultado final.
- Perda de oportunidades: empresas concorrentes que adotaram abordagens mais modernas ganham vantagem – e o mercado de construção civil está cada vez mais competitivo.
Caminhos para virar o jogo
A quebra desse ciclo passa por três movimentos estratégicos:
- Projeto antes da obra: Dedicar tempo e recursos ao planejamento é um investimento, não um custo. Estudos mostram que obras bem modeladas com ferramentas digitais têm redução relevante de retrabalho e desperdício.
- Capacitação e cultura de tecnologia:
Contratar ou formar profissionais preparados para operar novas plataformas, substituir planilhas por sistemas ágeis e promover um ambiente em que inovações sejam aceitas e valorizadas. - Estrutura de governança e gestão de dados:
Adotar KPIs de produtividade, digitalizar processos, monitorar performance e integrar equipes técnicas, comerciais e operacionais. Essas medidas geram transparência e previsibilidade – fatores decisivos para atrair investidores ou contratos de maior escala.
A encruzilhada da construção civil
O setor de construção civil está em uma encruzilhada: pode continuar caminhando na mesma velocidade ou acelerar e abraçar uma nova lógica de execução.
Para os líderes que optarem por transformar seus modelos, o diferencial não estará apenas em máquinas ou softwares – estará na cultura, no pensar antes de construir, no treinar antes de montar.
A decisão, para quem dirige empresas, é simples: manter a inércia ou liderar a mudança. Essa escolha definirá quem estará competitivo no mercado do futuro.

