Solar do Britto – Aries Arquitetura Ideias Estudos Soluções

Roberto Costa Farias
7 min de leitura

CASA GARÇA TORTA, BRASIL
Arquitetura: ARIES ARQUITETOS
Área: 300 m²
Ano: 2006
Fotografias: AÍDA BRITTO
Arquiteto Responsável: ROBERTO COSTA FARIAS
Construção: SÓCRATES CALHEIROS
Cidade: MACEIÓ, ALAGOAS
País: BRASIL

Situada na beira do mar, no nordeste do Brasil, litoral das Alagoas, tradicional conceito de “pé na areia”, possivelmente sustentado pelo que nos é caro e capaz de trazer mais leveza: areia fina, morno Atlântico, ventos e brisas e as nuvens somados ao coqueiral dançante, está o Solar dos Britto, um dos Projetos felizes e icônico do ARIES ARQUITETOS. A influência no território e sua posição exposta a maresia e aos ventos desenvolveram no cliente e possibilitaram ao criador o desejo de imaginar as respostas congruentes às tradições habitacionais locais. Para tanto, a obra respeita a memória em termos de tecnologia de construção, é sustentável, responde ecologicamente e é posicionada como ponto de referência para a antropologia cultural da paisagem marinha local.

Sendo a arquitetura uma disciplina que possue como primazia e objetivos a organização do espaço, o Solar dos Britto se desenha na paisagem como uma boa relação permeando visuais de dentro para fora e de fora para dentro na fachada praiana, o que busca ampliar em termos de relacionamento a dicotomia interior x exterior. Nesses termos, observando a construção a partir da paisagem, podemos pensar que a captura do observador estimula apreensões, enquanto a dimensão da paisagem oferece função integradora.

Ao conceber a seção longitudinal, denota-se a intenção e desejo do Arquiteto de favorecer a ventilação natural cruzar todos os espaços da casa. De modo que, entre as salas comuns e privadas não há delimitação física e em grande parte dos espaços há o proposital jogo de pergolados que cria um filtro entre os espaços e facilitando a ventilação e iluminação natural, a partir de grandes aberturas laterais. A suavidade de viver nos espaços é ritmada pela dança do ar, e das nuances gradativas das luzes, combinando sopro e reflexão em uma forma arquitetônica precisa, quase marcada e modelada pela cadência das ondas da praia.

A sofisticação sempre foi associada à simplicidade, quando se busca alcançar o despretensioso modelo da existência. Na arte da dança é a leveza, o ponto de apogeu. Na Arquitetura, no entanto, dar leveza será construir com o etéreo. Mesmo essa ação quase inatingível, se mostra intimamente ligada ao simbólico, as representações do abstrato ou como pode ser o gosto e a precisão do gesto.

Conhecidas as características topográficas da área, é a seção do lote retangular que determina a resolução do Projeto, duas fachadas com distintos usos e quase a mesma linguagem arquitetônica, dispostas em uma paisagem plana cuja inclinação breve em direção ao praiar foi elevada um metro acima do nível do mar. Ao entrar, essa distinção é completamente invertida: o enquadramento, o protagonista, a paisagem se materializa e figura, o oceano. Dado ênfase a ausência de hierarquia entre as duas fachadas principais, o mar e a rua em opostos lados, o traçado que o plano da casa expressa é a composição que embora se fundamente na simetria, não reflete tal espelho.

Os eixos principais de circulação são definidos no Projeto, o primeiro cortando perpendicularmente da rua ao oceano e articulam as áreas comuns que promovem a sequência da casa e, o segundo em paralelo às águas oceânicas para advir, captar e explorar seus recursos naturais para ventilação, insolação e conforto, tanto a vácuo quanto como um filtro. Quatro portas de varanda, ladeadas por janelas baixas, emolduram e introduzem o jardim. As áreas comuns e a cozinha da chegada ao espaço de convívio e permanência, proporcionam a vista do mar. Na chegada da rua, a garagem se confunde com um terraço. Ao encontrarmos as entrada para a casa. Duas portas idênticas abrem ora para hall, ora para o pátio interno que se transforma em coradouro protegido de todos os olhares, próximo ao serviço e aberto para o céu, após a ampla cozinha com copa e despensa, há uma passagem lateral onde há uma mesa de madeira, encimada por uma prancha de Surf. Por outro lado, nos acolhe a sala principal jantar e estar / tv. Várias peças de mobiliário antigo, de jacarandá e carrara: memórias do baronato e engenhos da família. Uma rampa e ao lado uma escadaria nos permite entrar no deck jardim, são mais de 100 metros quadrados de mirante na praia e uma perspectiva frontal de 180° da linha de horizonte marinho.

Em redor desse sistema, três suítes se desenvolvem ( sendo uma reversível), independentes da sequência da casa. Nesses quartos, a relação visual entre o interior e o exterior é filtrada por jardins de inverno que produzem uma espécie de arrefecimento na viração do vento e na vibração da luz, que mantém contato com uma atmosfera intimista.

Há ainda um gabinete, espaço de trabalho, lazer e operosidade para leitores costumazes e filatélicos atuantes.

O espaço oferece-se como um oásis para deleite de familiares e amigos, além de novos visitantes.

Explorar e elucidar espaços; missão do Arquiteto.

Texto de autoria de Roberto C. Farias, publicado na Coluna UrbaNauta do portal Notícias do Centro – A VOZ DO BAIRRO ONDE MACEIÓ NASCEU